Indústria de MS enfrenta falta de mão de obra qualificada

Outro exemplo é Ribas do Rio Pardo, que está se preparando para receber a nova fábrica da Suzano.

18 maio, 2023 - 06h43


No início de maio, a Suzano e a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) firmaram parceria para ampliar projetos de geração de trabalho e renda no campo, em Ribas do Rio Pardo.

Saldo de vagas em aberto estava em torno de 20 mil, no ano passado

Um dos principais gargalos que Mato Grosso do Sul tem enfrentado é a falta de mão de obra qualificada. O que torna o cenário ainda mais crítico é a chegada de novas indústrias que têm “roubado” trabalhadores de outros municípios do Estado, para suprir a demanda. O problema já é antigo. Prova disso é que, no ano passado, o setor estava com 20 mil vagas abertas e não conseguia preenchê-las, por falta de trabalhadores aptos.

Em entrevista ao jornal O Estado, o diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da Arauco, Mário Neto, disse que, realmente, existe uma alta demanda de mão de obra e a expectativa é que a busca cresça cada vez mais. A previsão é que a construção da fábrica, – que terá investimento de R$ 15 bilhões, em Inocência –, comece em 2025. “Essa busca será cada vez maior. Justamente por isso, a capacitação profissional é fundamental e o foco de atenção, em nosso planejamento estratégico”, destacou.

Para ele, Mato Grosso do Sul está se tornando o polo nacional da celulose, o que faz com que a busca por mão de obra também cresça. “Daí a importância do diálogo com os órgãos governamentais e parceiros, como o Sistema S, por exemplo, para a capacitação da comunidade. Ou seja, o crescimento da busca por mão de obra é uma oportunidade para o Estado e para as cidades onde essas novas indústrias estão se instalando”, completou.

Mário contou também que a equipe já visitou Mato Grosso do Sul para analisar a disponibilidade de trabalhadores para a obra e que a prioridade é contratar pessoas da região, mas, nos casos em que não houver opção, a busca é feita em outras localidades.

Conforme ele relatou, desde que o projeto Sucuriú foi anunciado, em junho de 2022, cerca de 1.100 novos postos de trabalho foram gerados pela Arauco e preenchidos por profissionais da região.

Outro exemplo é Ribas do Rio Pardo, que está se preparando para receber a nova fábrica da Suzano. O prefeito João Alfredo Danieze afirmou que existem pessoas de outras cidades do Estado trabalhando na obra, mas que a maioria é do próprio município. Além disso, a prefeitura custeia 22 cursos, em convênio com o Senai, como, por exemplo, segurança do trabalho e construção civil; segurança em instalações e serviços com eletricidade; instalador de energia fotovoltaica, assistente de controle de qualidade, entre outros.

“A mão de obra, para a operação da fábrica, está sendo qualificada. Muitos, inclusive rio-pardenses, já foram contratados pela Suzano”, ressaltou.

Reflexo

O presidente da Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), Sérgio Longen, relaciona o problema com a oferta de benefícios sociais. “Vivemos um apagão de mão de obra. É difícil encontrar, hoje, um empresário que não tenha dificuldade com mão de obra. Entendo que os benefícios sociais precisam ser revistos, entendo que podemos construir uma parceria em ofertar, a esses beneficiários de programas sociais, qualificação para essas pessoas”, ressaltou, durante apresentação dos dados industriais no Estado, na terça-feira (16).

A situação pode se refletir também na abertura de novas indústrias, em Mato Grosso do Sul. “Entendo que uma grande demanda hoje é a mão de obra. No passado, nós tínhamos problemas financeiros, hoje temos o FCO, que ajuda muito. Mas, entendemos que a grande demanda hoje é a mão de obra”, enfatizou.

Na visão do consultor empresarial Daniel Cavalheiro, a escassez de mão de obra qualificada ocorre devido a quatro fatores: mudanças no mercado de trabalho, falta de investimento em educação e treinamento, envelhecimento da força de trabalho e migração de profissionais qualificados.

“Esses fatores acarretam a falta de profissionais com habilidades atualizadas, descompasso entre as competências disponíveis e exigidas, lacunas no conhecimento devido à aposentadoria e lacunas deixadas pela migração de talentos”, pontuou. Ainda segundo análise do profissional, isso gera impacto negativo às empresas, como atrasos na produção, redução da competitividade, aumento dos custos de contratação e retenção, e falta de capacitação, dentro das organizações.

“Na minha opinião, para enfrentar esse desafio é crucial investir em educação e treinamento, promover parcerias e políticas de desenvolvimento de habilidades, adotar abordagens de longo prazo e, principalmente, investir na retenção de talentos, com vantagens e benefícios”, pontuou.

Mais empresas e emprego

De acordo com os dados apresentados, a previsão é que a indústria conquiste 11,6 mil novos empregos, até 2028.

Segundo o relatório apresentado pela Fiems, em Mato Grosso do Sul, os frigoríficos lideram como os que mais empregam, com 32.892 funcionários. Em segundo lugar está a indústria e construção, com 28.372; e em terceiro lugar está a indústria sucroenergética, com 20.012 empregados.

A projeção é que o ano termine com 6.450 empresas industriais, com crescimento de 3%; em 2024, 6.550 empresas industriais; e 2025; 6.680.

Entre 2023 e 2028, estão previstos aumento da produção de minério de ferro; reativação de usina sucroenergética; instalação de novas sucroenergéticas; ampliação e instalação de usinas de etanol de milho; construção de novas fábricas de celulose e ampliação da capacidade de abates de suínos. Essas ações serão distribuídas nos municípios de Corumbá, Anaurilândia, Paranaíba, Dourados, Maracaju, Ribas do Rio Pardo, Inocência e São Gabriel do Oeste.

Em visita a Campo Grande, na segunda-feira (15), a ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, enfatizou que a reforma tributária também é importante, para fazer o Brasil crescer.

PIB

Enquanto a indústria de Mato Grosso do Sul aumentou sua participação no PIB estadual, de 17% para 21%, a indústria nacional teve sua participação no PIB brasileiro reduzida, de 27% para 23%.

O PIB industrial deve encerrar 2023 com crescimento nominal de 6,9%, sendo R$ 31 bilhões. Em 2024, R$ 33,3 bilhões, esperando aumento nominal de 7,6%. Em 2025, R$ 35,9 bilhões, com crescimento nominal de 7,7%.

Entre 2023 e 2024, a estimativa é que sejam investidos R$ 139,7 milhões na construção, reforma e ampliação de unidades do Sesi e do Senai, na Capital e no interior do Estado.

Qualificação

Ainda conforme Longen, um dos projetos que está em tratativas com o Governo do Estado é utilizar a sala de aula de escolas públicas como um meio para qualificar.

No início de maio, a Suzano e a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) firmaram parceria para ampliar projetos de geração de trabalho e renda no campo, em Ribas do Rio Pardo.

O comprometimento é expandir iniciativas de capacitação, especialização e transmissão de conhecimentos para famílias com aptidão agrícola, nas áreas próximas à construção da nova fábrica da companhia, no município.

Em entrevista ao jornal O Estado, em outubro do ano passado, o CEO da Suzano, Maurício Miranda, informou que serão feitos cursos de capacitação durante todas as etapas da construção, enfatizando que a oferta é divulgada até para cidades vizinhas

. “Após cada etapa de qualificação, grande parte das pessoas que concluem os cursos é convidada para atuar nas operações da empresa. Aquelas que não conseguem uma oportunidade conosco, estão qualificados, no mercado de trabalho, para atuarem em outras empresas”, disse Maurício.

Por Izabela Cavalcanti – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.


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